Ter sorte, certa inteligência e ser feliz significa saber escolher pessoas a dedo. Minhas pessoas foram – e são - tão bem escolhidas que receio faltar-me amor. E, quanto mais receio, mais amor tenho. Porque o amor se constrói no incerto bom, que de uma hora para outra vira diálogo bom, que de outra hora para outra vira cotidiano, que logo vira convivência e que, quando se vê (não se imaginava!), mesmo distante se sente amor. O ponto em que a distância não importa é aquele em que, não mais que de repente, essas nossas pessoas, por fazerem parte de nós, acabam inevitavelmente se transformando em nossas vidas (e de uma vida que é própria e nossa obviamente nós não nos distanciamos). E saber que tudo começou com um receio de dar bom dia ou de contar um segredo. Mas a vida não começa no receio? Aceitá-la toda viva não é atitude sem medo.
Um indivíduo só é uno quando pode enxergar em si mesmo uma porção de outros. Só assim, pelo outrem que se vê no seio, surge uma ousadia forte. Uma coragem que é capaz de desfazer todo o medo primeiro de uma vida. A partir dela, todo o trêmulo “sim” ao ato de viver transforma-se em brado confiante. Todo o receio se esvai então em sorrisos. Sorri quem sabe escolher a dedo. Escolher a dedo a outridade certa – e saber colocá-la em nós - é a sabedoria mais doce. E saber docemente é o que procuro agora.
Ao fim, resta-me então destinar esse pequeno texto aos Meus. Meus porque estão em Mim e me são a outridade essencial. Ora, meus porque simplesmente... me são. Deve-se perceber que o milagre mais forte está em nós e não além. O milagre mais forte é justamente a possibilidade de caberem tantas pessoas em um único seio. Descobre-se então - não sem espanto e perplexidade – que viver é simples, o que não quer dizer fácil. Docemente, descobre-se que talvez uma vida inteira seja apenas só - e tudo - isso.
(Luana Borges)