Tinindo Trincando
quarta-feira, 2 de maio de 2012
A vida secreta da estrela
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Sobre a mulher que sou. Sobre o homem que não sou. Sobre o homem que fui. Sobre o mundo que eu queria captar. Sobretudo, sobre a pretensão.
às casas, claro. Um poema à ciência do concreto e do atmosférico. Elas sabem de tudo, sacaram? Da matemática ao amor. Um beijo então desse homem, um conquistador barato que entende que elas sabem, e não só sentem, e que sentem, mesmo sabendo.
domingo, 18 de setembro de 2011
Divagações após um dia bom
domingo, 4 de setembro de 2011
A moça viajante e a vida de sua cozinha
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Sobre a Angústia da Influência (ou Breve Recado de Uma Amadora)
Se eu conseguisse escrever Clarice, isso seria um verso.
sábado, 6 de agosto de 2011
Notícia de última hora (ou A história da moça do pequi)
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A morte da máscara oficial
A cada passo, um pensamento cai, uma preocupação aparece. A falta de algo checa os bolsos, a pasta e o tato do corpo. A falta de personagem pesa sobre a cabeça, como uma autopunição. Como poderia esquecer minha figura dramática? Deve ter adormecido, se enrolado nas cobertas e agora descansa no vazio frio de uma cama vaga. Com que cara esconderei toda a minha irresponsabilidade? Como dissimularei a inexistência de interesse? Meus músculos não saberão como agir. Vão escrever nas linhas da minha face toda mentira escondida nos diálogos fingidos, todo o não consentimento mascarado.
Sou o resumo daquele que não concorda e que, no entanto, cala. Por mudez, vinda de pura preguiça, finjo consentir. Internamente, contudo, a revolta é grande. E tola. Em meio às preocupações de meu bolso – o bilhete do ônibus, o dinheiro contado, a conta de luz, as letras secretas de alguém – carrego o retrato 3x4 de um dos meus rostos mais sisudos. Retrato de um olhar que parece querer correr de toda a insanidade que por vezes mentimos não ver, ou a fingimos normal.
Outro olhar fugidio. Na rua da vida o moleque vende goma. E a gente desvia os olhos. Optamos pelas fotos claustrofóbicas e enclausuradas dos shoppings. O menino vende bala e ninguém sabe dele. Ninguém quer saber. Assim continuamos tecendo diálogos com quem não nos importa, em um ar condicionado gélido e artificial. Escritório. Óculos. Tapinha nas costas de engravatados cardíacos e desinteressantes.
Ah! Interessa-me mais o menino e o movimento na rua. Interessa-me aquilo que ninguém percebe. Comove-me o pássaro no fio tenso de eletricidade e o vendedor de picolés que proseia feito poeta. Até me esqueço da conta de luz. Mas o ônibus continua a correr. A coisa não pára. Leva-me à rotina.
Outro senhor engravatado. Dez da manhã. Ponto eletrônico. Pasta repleta de documentos. Minhas digitais coincidentes com meu fingimento matinal. A conta grita no bolso e cala meu menino no semáforo. Desperto a figura dramática que deixei embrulhada nos cobertores de minha cama e visto a indumentária habitual. Sorrio com hálito de café à secretária.
Eu então rio a poesia de meu sorveteiro e masco os chicles do moleque que corre. O homem do terno, por sua vez, enxuga o suor. É um senhor respeitável. Chega à sua casa com ar notório. Não encontra a mulher. Ela deve ter ouvido qualquer poema, para além de seu muro alto, metrificado os passos e seguido o som da lira. O homem sozinho, tão respeitado, mas sem rima alguma que soe seus tons. Suado. Enforca-se com sua gravata vermelha.
Sem lira
Com ira
Sem lírios
Delírio
(seus louros não valeram uma vida enforcada).
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
De uma tarde, por Graça
A moça elogiara o cabelo de Graça. Um elogio, apenas gratuito. De graça. A menina tinha vontade de elogiá-la também, retribuindo, como tem de ser. Mas não conseguira, semáforo aberto, apenas reparara no tom vermelho, batom da boca da moça, boca bem desenhada e fina. A moça era bonita. Mas não recebera elogios. O sinal abriu e Graça muito se ateve ao batom e às listras branco-vermelhas daquele uniforme. Ateve-se tanto que até se esqueceu. Por se ater, esquecia-se com frequência de falar. Mas via tudo. As coisas, naquela tarde, passavam por ela como há muito não acontecia. Um ponto de ônibus lotado de trabalhadores e estudantes, como antes.
E, sob o mesmo ar vespertino, era de novo a menina que corria ruas. A vida seria correr ruas tão doces e sujas. A vida seria se ater a postes, luzes, ventos, canteiros, árvores, olhares, sorrisos e até a pessoas inteiras. A vida apressava-se com o sol e dançava com a lua. E, de sol-a-sol, formava-se num eterno presente que pensa o futuro. E, de tão terno presente de vida, Graça, lindamente humana, não o recebia com a devida gratidão. Estava longe dos santos.
Restava-lhe então ir. Rir. Mas aquele riso assim sem graça - de quem apenas ia - às vezes divinamente se esquecia de ser amarelo. Aí se engraçava. Graça enchendo-se de si. Engraçando-se aos poucos. Esforçava-se então: não cobraria mais nada de Deus. Tampouco duvidaria da Bondade. Dar-se-ia. Dar-Lhe-ia, apenas grata, sus gracias.
(Luana Borges)