quarta-feira, 1 de julho de 2009

Meus vinte anos passam agora como se fossem trinta ou quarenta. Isso é besteira! De cara já vou dizendo que este texto não merece ser lido. Não quero me comprometer com você, leitor preguiçoso e que exige códigos inteligíveis. Você me cansa de explicar tudo didática e perfeitamente. Na verdade, estou mesmo é cansada de mim, sempre comprometida com os pormenores de todas as explicações. Minha vida é tola e exige de mim certa organização. Mas, no momento, a única coisa que posso esperar é meu total devaneio, ininteligível e que se perde por amar, odiar e se revoltar demais. Meu pior erro é sentir e tudo o que queria na vida era executar ações sem pensar. Os tolos têm mais sentimentos e sofrem por coisas que, de tão pequenas, os inteligentes que otimizam o tempo não conseguem nem percebê-las. Meu pior erro é sentir. Almejaria apenas uma vida simples de trabalho até às seis da tarde. À noite, só quereria desejar um programa de televisão que me levasse ao ápice da ignorância, cheia de felicidade doce e plena... E ficaria até às dez com filhos e amigos, quem sabe com uma chuva caindo e me fazendo falar da vizinha ou do cunhado. Eu não quero ser entendida, agora. Como disse, cansei-me de me explicar. Cansei-me desse outro organizado. E minha casa estremeceu quando apenas vi que poderia chorar por três horas sem motivo aparente ou quando vi que os olhos enchiam de lágrimas por desejos proibidos ou ainda quando percebi que o melhor da vida é exatamente aqueles momentos em que nada fazemos e apenas sentimo-nos viver, olhando-nos uns aos outros e respirando. E se viver exige de mim tal simplicidade, estremeci porque não a consegui. Minha casa, construída sempre com tijolos tão seguros e milimetricamente distribuídos, caiu quando vi que estes tempos tristes me separaram das coisas simples. Separaram-me pela culpa. Esse diabo sempre me perseguiu. Por que um ser humano tem de se culpar por passar a tarde olhando nuvens e sol, se isso é a vida e nada mais? Pela culpa, não me permiti parar e olhar calmamente. Meus olhares, mesmo quando não apressados por já terem cumprido o expediente do dia, sempre foram aflitos e sedentos de algum carinho pausado. Eles olharam a vida, sim, e captaram alguma beleza singela. Mas a olharam e logo pensaram no que deviam fazer para ganhá-la. Veja só! Para que ganhar uma vida que, todavia, já me foi dada? E disso veio meu cansaço de jovem que nasceu velha. E disso veio minha recente desorganização mental. Porque resolvi curtir meu presente que me foi dado e o que ganhei foi uma gastrite, recado de uma culpa que me desafia todos os dias. Mas já nem me importo. O que busco, hoje, é apenas o melhor de mim. O que conseguirei, talvez, será apenas esse estágio de contemplação: uma observação atenta e calma das coisas que passam e uma presentificação interna das coisas que ficam. Talvez isto seja a única coisa que posso e que tenho o direito de esperar de mim. Tudo o que quero. E você não precisa me entender. Sei também que minha casa caiu. Mas ainda tenho um terreno e, nele, sob a luz das estrelas do céu, estou mais desprotegida e mais desesperadamente viva.

Luana Borges

2 comentários:

Marco A. Vigario disse...

Pô, Luana, que coisa linda! Você escreve muito, garota! Mesmo quando discordo de você, a intensidade do seu texto me enche de emoção! Escreva sempre!

Brain Storming disse...

Luzinha, muito bom esse. Cada dia me orgulho mais da minha descoberta fantárdega! dsahuisdhiudshaud Amo você! Tay