quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sobre a vida de uma menina*

No quintal da minha infância, mamonas e mamões. Talos que serviam de canudos para bolhas de sabão. Dois vizinhos que brincavam ao meu lado. Minha irmã com seus lindos olhos. Os azulejos floridos, o grande tanque cheio de água que cheirava à roupa molhada e à umidade das três da tarde. Havia pães de queijo e biscoitos. Na rua de minha infância, logo acima de minha casa, tios e primas. Um armazém de balinhas gratuitas. Depois, no neon de minha adolescência, letreiros brilhavam à noite. Asfalto molhado e risos amigos. Danças e xis-salada. O centro da Capital. Talvez um violão e um menino bobo que me olhava em misto de irritação e encanto. Grandes shows e tolos protestos. Encenações em palcos comoventes. Nas luas de minha adolescência, talvez também amores desperdiçados. Tudo pelo simples prazer de ser eu assim, tão livre. Agora, chego à labuta de minha juventude. Responsabilidades. Trabalhos em meio a pessoas que também conseguem ser uma vida inteira e carregar, em seus olhares laboriosos, todas suas felicidades particulares. Bom que ainda existam seres assim. Bom que eu também, nos computadores e nas matérias de minha juventude, consiga ainda ser aquela antiga menina da bolha de sabão. Sorriso torto e franco e aberto. Daqueles cheios de dentes que quase expõem o ciso. Mas no meio da tarde quase adulta, sob intenso sol e incessante trabalho, será que ainda conseguirei respirar e pegar mamonas para brincar, mesmo que mentalmente, com todos os meus? Com a força de minha paixão, espero que sim. Tudo porque o que está ainda no meu íntimo, na verdade, são os azulejos floridos de minha infância e os grandes olhos de minha irmã. Mesmo com todas as mudanças, espero sempre ter em mim essa menina boba. Preciso dela porque ela está nos meus olhares felizes e nas minhas pupilas cintilantes. E realmente não importa se já descobri que as balinhas não eram gratuitas, pois minha tia as pagava mensalmente para o meu consumo feliz. Sempre terei a necessidade de manter minha bobeira, ingênua e inevitável.
* "mas menina é uma palavra tão bonita!" stephani echalar diz a giovanna e a luana, em conversa após o almoço. O título ia ser sobre a vida, menina veio só por causa da frase de steph...
Luana Borges

Um comentário:

Ana Carolina Castro disse...

Bolhas de sabao com canudo de mamonas.. balinhas 'gratuitas'.. encenacoes na adolescência..
Esse eu texto me deu uma nostalgia enorme.